20/09/2016

A ressurreição do agrião



>Rorippa amphibia (L.) Besser


Rorippa nasturtium-aquaticum é o nome científico do popular agrião usado em sopas e saladas. Por falta de nome alternativo em português, temos chamado agrião às demais ervas do género Rorippa, quase todas elas amigas de ambientes húmidos ou encharcados. Com caules geralmente erectos e flores amarelas, não são assim tão parecidas com o verdadeiro agrião, que tem flores brancas e caules prostrados. De facto, estudos moleculares indicam que o agrião está mal posicionado no género Rorippa, e por isso há quem prefira emancipá-lo num género próprio, chamando-lhe Nasturtium officinale.

Falemos pois do falso agrião que hoje ocupa o escaparate. O epíteto amphibia sugere que ele está à vontade tanto na água como em terra. O local onde em Junho passado o encontrámos, uma lagoa pouco profunda de uns quatrocentos metros de comprimento, em Febres (Cantanhede), permitia-lhe fazer bom uso dessa versatilidade, não se ficando temerosamente pelas margens mas avançando bem até ao centro da lagoa. Espreitando com alguma dificuldade por entre a densa vegetação de árvores, juncos e canas, o que víamos (2.ª foto) era o amarelo das flores ocultando o azul da água. E era um amarelo espesso, pois a Rorippa amphibia, podendo ultrapassar um metro de altura, não é uma planta rasteira.

Não é apenas pelo habitat aquático e pelo porte avantajado que a Rorippa amphibia se distingue das congéneres que por aqui têm desfilado (a R. palustris é muito menor, a R. pyrenaica prefere lugares mais secos). Embora as folhas basais exibam forma muito variável, as folhas caulinares costumam ser inteiras e às vezes (1.ª foto) bastante largas. Outro pormenor distintivo é que os frutos (silíquas) são duas a três vezes mais curtos do que os pedúnculos (penúltima foto).

A extensão ocupada por esta Rorippa todo-o-terreno na lagoa de Febres sugere, correctamente, que a planta é capaz de se reproduzir vegetativamente, libertando estolhos que, enraizando-se, dão origem a novas plantas. Não tendo ela, ao que pudemos comprovar, conseguido instalar-se nas outras lagoas da região, é de supor que a reprodução por semente não tenha o mesmo grau de eficiência. Na verdade, e mesmo que esta população seja da ordem dos muitos milhares, a Rorippa amphibia é uma das espécies mais raras e ameaçadas da flora portuguesa. Assinalada apenas na Beira Litoral e no Ribatejo, mas pouco ou nada vista nos últimos anos, pode ser que a sua exuberante presença nesta lagoa de Cantanhede seja o seu canto do cisne em território nacional. (De resto, embora rara na Península, ela é comum na Europa para lá dos Pirenéus.)

1 comentário :

bea disse...

Não me interesso muito por rorippas que não sejam agrião de verdade, daquele usado em sopas e saladas, com sabor característico. Estejam em Febres, no meio das lagoas, nas bordinhas, onde bem lhes apeteça e possam.